O Toxoplasma gondii, agente etiológico da toxoplasmose, tem o gato como hospedeiro definitivo, e o homem e outros animais como hospedeiros intermediários. Os alimentos vegetais contaminados com oocistos e os de origem animal, principalmente produtos suínos e ovinos com cistos, são os maiores responsáveis pela infecção humana e no cão. Além destes alimentos, estão envolvidos, ainda, o solo contaminado e roedores infectados, ingeridos parcial ou totalmente, como consequência dos hábitos carnivoros exercidos por estes animais. Esta doença pode provocar graves lesões sistémicas, variando de sinais neurológicos, ósteo-musculares, respiratórios a oculares, dentre outros.

Introdução e etiologia
   
A toxoplasmose é uma coccidiose dos felídeos, causada pelo Toxoplasma gondii. É uma das mais comuns parasitoses, afectando praticamente todos os animais homeotérmicos, em todo o mundo, inclusive o homem, constituindo-se em importante zoonose. Trata-se de um sério problema para as criações de suínos e pequenos ruminantes, nas quais causa prejuízos pelos abortos, infertilidade, além de diminuir a produção dos animais infectados pela via congénita. No homem, é a principal causa de encefalite nos indivíduos afectados pela síndrome da imunodeficiência imunológica adquirida (SIDA), causando também lesões neurológicas e oftálmicas em crianças expostas durante a vida intra-uterina, e em indivíduos imunodeprimidos.
     O Toxoplasma gondii apresenta três formas infectantes: os taquizoítos (taqui=rápido), que são as formas de proliferação rápida, e estão presentes em grande número, nas infecções agudas. No animal afectado, o parasita pode estar no sangue, excreções e secreções. Neste estágio sobrevive no meio ambiente ou na carcaça por poucas horas. Os bradizoítos (bradi = lento) são formas de reprodução lenta do Toxoplasma gondii, e estão presentes nas infecções congénitas e crónicas. Organizam-se aos milhares particularmente em músculos e tecido nervoso. Neste estágio pode sobreviver em tecidos por alguns dias depois da morte, mas é destruído pelo congelamento a –12oC por 24 horas ou cocção a 58oC por dez minutos. Os oocistos são as formas resultantes do ciclo sexuado do parasita, que ocorre apenas no trato gastrointestinal dos felídeos. Os oocistos são eliminados nas fezes ainda não esporulados, tornando-se infectantes após a esporulação no meio-ambiente, que ocorre entre três e cinco dias de acordo com as condições ambientais. O oocisto esporulado pode permanecer viável no meio ambiente por até um ano e meio.

Epidemiologia
   
Os gatos   infectam-se principalmente pela ingestão dos microrganismos encistados presentes nos tecidos dos hospedeiros intermediários, tais como os roedores, entre outros. A parede dos cistos é digerida, liberando organismos infectantes na luz intestinal, que penetram pela parede intestinal e rapidamente multiplicam-se, formando taquizoítos que espalham-se por todos os órgãos do animal. Simultaneamente o parasito reproduz-se nas células da parede intestinal, denominando-se ciclo entero-epitelial, culminando na formação de oocistos, que são excretados com as fezes. Na medida que se produz a resposta imune no gato, a eliminação de oocistos é detida e os taquizoítos reproduzem-se cada vez mais lentamente, modulando-se em bradizoítos que se organizam em cistos teciduais, localizados nos mais diversos tecidos do corpo dos animais. Os gatos que não se expuseram previamente começam a eliminar oocistos entre três e dez dias após a ingestão de bradizoítos e continuam a eliminação por até dez a 14 dias, produzindo vários milhões de oocistos. Após o estabelecimento da resposta imune, a re excreção de oocistos é extremamente rara, podendo ocorrer com a utilização de imunossupressores, como os glicocorticóides em altas doses, por períodos prolongados.
   
     Os felídeos são o ponto-chave da epidemiologia da toxoplasmose, sendo os únicos hospedeiros da forma sexuada do parasita e, por eliminarem oocistos nas fezes, são a única fonte de infecção dos animais herbívoros. Nestes animais como suínos, caprinos, ovinos, roedores e outros mais, ocorre apenas o ciclo extra-intestinal, com proliferação de taquizoítos nos órgãos e, com a resposta imune, desenvolvem-se os cistos teciduais. Estes permanecem viáveis e são infectantes para os gatos e para os outros hospedeiros intermediários como o homem e o cão. Nestes últimos, a infecção geralmente pode acontecer pela ingestão de oocistos, presentes no solo ou alimentos de origem vegetal, ou de carne com cistos tissulares.
     A transmissão congénita do T. gondii pode ocorrer quando a infecção aguda coincide com a prenhez, com consequências mais sérias aos fetos, no primeiro terço ou metade da gestação, embora quanto mais adiantada a gestação, maior é a probabilidade da infecção fetal, porém com menos riscos de fetopatias graves. O Toxoplasma gondii multiplica-se na placenta e, então difundem-se para os tecidos fetais. Embora a infecção possa  desenvolver-se durante qualquer estágio da gestação, o feto é afectado mais severamente quando a fêmea gestante se infecta durante a primeira metade da gestação.

Sinais Clinicos
   
Os sinais clínicos da toxoplasmose muitas vezes são inespecíficos, e podem confundir o diagnóstico da enfermidade. Os sintomas mais frequentes são aqueles associados ao sistema respiratório e digestivo, acompanhados de febre, anorexia, prostração e secreção ocular bilateral . O comprometimento pulmonar é evidenciado pela tosse, espirros, secreção nasal  e dispneia. Podem ocorrer ainda hepatite, linfoadenomegalia mesentérica, obstrução intestinal pela formação de granulomas, peritonite, miosite e miocardite. A toxoplasmose pode ser suspeitada em gatos com uvéite anterior, retinocoroidite, febre, dispneia, polipnéia, desconforto abdominal, icterícia, anorexia, apatia, ataxia e perda de peso.
     A toxoplasmose aguda pós-natal pode desenvolver-se em indivíduos aparentemente normais acompanhando a ingestão de grande número de oocistos esporulados ou bradizoítos, o que pode levar ao envolvimento de vários órgãos, o que é comum, incluindo sinais como inapetência, dispnéia, tosse, vômito, diarréia, hematemese, aumento das amígdalas e linfonodos periféricos, esplenomegalia e algumas vezes hepatomegalia. A inflamação hepática pode estar associada à dor abdominal anterior e efusão peritoneal, geralmente associada a vómito, diarreia e os animais podem tornar-se ictéricos devido à natureza difusa da necrose hepática, enquanto a toxoplasmose pós-natal crónica causa mais comumente sinais oculares e neurológicos, e raramente provoca envolvimento hepático primário.
     Lesões oculares por toxoplasmose são muito comuns em gatos. A toxoplasmose é a causa mais frequente de uveíte nos gatos, mas é difícil reconhecer o toxoplasma como a causa da mesma. Apesar que nem todos os gatos com toxoplasmose apresentam uveíte, esta é mais usual em gatos com toxoplasmose sistémica. 

Diagnóstico
   
O diagnóstico da toxoplasmose em cães e gatos baseia-se em métodos directos, que consistem na identificação do parasita em materiais dos animais infectados, e métodos indirectos, baseados na identificação de anticorpos específicos contra o Toxoplasma.

PROFILAXIA
   
O T. gondii, pela sua versatilidade, dependendo do hospedeiro e da via, pode ser infectante em qualquer estágio evolutivo (taquizoítos, cistos e oocistos), facto que amplia muito, em condições naturais e laboratoriais, os riscos de infecção para os animais domésticos e o homem. 
     A toxoplasmose no homem deve ser prevenida pela cocção adequada dos alimentos, pela lavagem das frutas e verduras, assim como dos instrumentos e superfícies utilizadas na preparação dos mesmos.
     Nem as pessoas que criam gatos, bem como os veterinários possuem um risco significante maior de adquirir a toxoplasmose do que a população em geral, o mesmo valendo-se para gestantes e pacientes imunodeprimidos. Assim, esta população não deve ser afastada dos seus animais. Há de se tomar precauções, removendo as fezes dos felinos diariamente, prevenindo a esporulação de possíveis oocistos no convívio humano, tarefa que não deve ser realizada por gestantes e pacientes com imunodepressão. Devem ser utilizadas luvas sempre que sejam manipuladas as fezes dos gatos, assim como nos procedimentos de jardinagem.

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